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Cattleya leopoldii 'Cetro de esmeraldas' |
A entrevistada de hoje já enfrentou a fúria de pestes e furacões sobre seu orquidário. Ficou triste, abalada, mas sempre se reergueu. Começou tudo de novo e voltou mais forte e renovada. Conhecida no meio orquidófilo como Dê, Edzilda Kawasaky é famosa por suas orquídeas premiadas, de beleza e qualidade excepcionais. O exemplar da foto é um de seus favoritos, primeiro lugar na Exposição de Londrina. A seguir, uma pequena apresentação, escrita por ela.
'Tenho 53 anos, sou casada, tenho um filho de 27 anos, sou mestiça de japonês e meu marido é descendente de alemães, uma bela mistura que resultou em um filho polaco de olhos verdes, lindo de morrer (Não sou mãe coruja, imagine). Nasci e cresci em Londrina - PR. E só saí de lá quando me casei. Hoje resido em Rolândia, cidade circunvizinha de Londrina.
Sempre gostei muito de lidar com plantas, jardins, hortas e pomares. Espero poder passar aqui um pouco da minha experiência como orquidófila para vocês, e desde já agradeço ao Sergio Oyama Junior pelo convite, que me deixou imensamente honrada.'
O.A. Como foi despertado o seu interesse por orquídeas? Há quanto tempo as cultiva?
E.K. Tenho um primo, Roberto Kawasaki, que também é orquidófilo. Sempre que eu o visitava, ficava encantada com suas plantas. Até que um dia, resolvi comprar algumas, em uma barraquinha da exposição e venda de orquídeas em frente ao supermercado onde faço compras. Lá fui eu, deu vontade de comprar uma de cada. Lembro-me bem que fiz tantas perguntas ao vendedor, que o deixei doidinho (risos). Saí de lá com cinco vasos.
Em seguida, já entrei para associação de Londrina, junto com meu primo. Depois disso, passei a participar de exposições e, de lá pra cá, não parei mais de comprar. Comecei em 2001 com cinco vasos e hoje tenho mais de mil plantas.
Já tive que aumentar o orquidário duas vezes, agora chega. Não dou conta de cuidar delas com a atenção merecida, diminuir esta quantidade seria melhor para mim e para elas.
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Edzilda Kawasaky (Dê) |
O.A. Sua coleção é notória pelos exemplares belíssimos e selecionados a dedo. Quais são os seus critérios para adquiri-los?
E.K. Eu não era nada criteriosa, quando via uma que me interessasse, ia à caça. Procurava em exposições ou via internet até conseguir um exemplar. Hoje, sem mais espaço, sem tempo e mais ponderada, só adquiro aquela que acho que vale a pena. Até porque, o trabalho que tenho para cuidar de uma orquídea de R$ 1.000,00, por exemplo, é o mesmo com uma de R$ 10,00.
Elas dão muito trabalho, são como bebês, totalmente dependentes da gente. Diferentemente da natureza, nós as enclausuramos e amontoamos todas dentro de um mesmo recinto, com tudo igual. Então, precisamos dar a elas o mínimo de condições para que se desenvolvam e floresçam, para nosso contentamento. Por isso, precisamos escolher muito bem antes de comprar, sempre observando se a planta se adapta ao nosso clima, observar o nível de dificuldade de cultivo de cada espécie e ver se estamos capacitados.
Não vale a pena sair comprando desvairadamente tudo o que achar bonito, mesmo porque eu acho todas lindas demais. A orquídea para mim é a flor perfeita. Dentro do meu orquidário tem de tudo um pouco, apesar de gostar mais de espécie do que de híbridas.
O.A. Quais as principais características do seu cultivo, em relação à adubação, regas e defensivos? O que torna suas orquídeas diferentes das nossas, pobres mortais?
E.K. Então... Eu era obcecada por dar o que tinha de melhor às minhas 'meninas', e isso incluía uma saúde perfeita. Mas ao longo desse tempo, andei fazendo muita burrada. Por exemplo, certa vez comprei 200 plantas do filho de um colecionador que havia falecido, e essas plantas me deram muita dor de cabeça. Coloquei todas junto com as minhas, o que fez com que muitas doenças entrassem no meu orquidário. E então começaram os problemas. O certo seria deixar essas plantas de quarentena e fazer uma inspeção minuciosa em cada vaso, replantar todas de acordo com o meu cultivo.

Passei a usar várias formas de defensivos, naturais, de contato e sistêmico, inseticidas, fungicidas... Foram anos usando muita coisa inapropriada, ultimamente eu usava fungicida sistêmico todo mês, como se fosse preventivo. Com isso, os fungos foram ficando resistentes e as plantas intoxicadas de tanto veneno.
Foram necessários mais de 6 meses sem usar nada para que elas se recuperassem. Hoje em dia, uso apenas inseticida natural, como preventivo, e só de 4 em 4 meses, já basta.
Adubação, ainda prefiro orgânica, mas também uso a química. Não consigo estabelecer uma regra, tento passar pelo menos uma vez ao mês, mas tem mês que não dá. E pensar que, quando era pra passar 'veneno', eu dava um jeito e passava todo mês. Credo... Mas está bom, é errando que a gente aprende (risos).
O.A. Que conselhos daria a quem está começando? É possível cultivar orquídeas em apartamento?
E.K. Que pergunte muito antes de fazer qualquer coisa, seja comprar, adubação, tratos, tudo que envolve a arte da orquidofilia. Estudar bastante, hoje temos ótimos livros de pesquisa e alguns de bem fácil compreensão, como por exemplo o ABC do Orquidófilo, do Prof. René Rocha.
Hoje, com a internet, há vários grupos de discussão sobre cuidados com orquídeas. Eu mesma aprendi quase tudo o que sei em um desses grupos, o pessoal é muito bacana e não economiza palavras ao repassar tudo, tim-tim por tim-tim, para os novatos. Ficamos bem informados sobre tudo o que rola no mundo orquidófilo, sem contar as inúmeras amizades que fazemos, muitos chegam até a ficar íntimos. Se alguém se interessar, pode se inscrever em: orquideas-subscribe@yahoogrupos.com.br.
Se é possível cultivar em apartamento? Eu nunca morei em apartamento, então não posso opinar, mas tenho amigos que moram, cultivam e têm lindas florações.
O.A. Quais os seus planos para o futuro de seu orquidário? Ainda existe alguma orquídea que almeje e não possua?
E.K. Atualmente, eu já venho preferindo cultivar somente espécies e, de preferência, Cattleya walkeriana e Cattleya nobilior, por serem plantas muito resistentes. Com os melhoramentos genéticos, têm aparecido coisas maravilhosas. Os preços ainda são muito salgados, mas ainda assim sou apaixonada.
Gosto muito também das Cattleya lueddemaniana, Cattleya percivaliana, além da Laelia purpurata.
Uma orquídea que eu ainda não tenho, mas um dia terei em minha coleção, é a Cattleya walkeriana tipo 'Feiticeira'. É uma planta nativa, descoberta por um mateiro, nos anos 1960. Exibia a perfeição original que só a natureza conseguia lapidar. Ela se destaca por sua beleza e pela dificuldade de reprodução. Modernas técnicas de reprodução vegetativa não conseguiram violar integralmente esse código secreto para multiplicá-la de forma serial.
O.A. Além da generosidade em nos contar sobre seu cultivo, a Dê ainda deixou seu e-mail para contato (de_edzilda@hotmail.com) e seu blog, ÓrkhisDê, onde vocês poderão apreciar outras jóias da sua coleção.Link